São Carlos

Jesser dos Santos – Músico

No dia 11 de setembro de 2021 na cidade de Campinas SP, o senhor JESSER DOS SANTOS nos recebeu na casa onde mora com sua sobrinha Marcia e seu esposo para nos contar um pouco de sua história de vida e de sua família, nascido dia 08 de julho de 1933 na cidade de São Carlos SP com 88 anos, filho de Alfredo Augusto dos Santos e dona Benedita do Nascimento dos Santos, vindo de uma família de seis irmãos Ricardo, Joel, Mario, Geuza, Creuza, ele foi casado com a senhora Áurea da Conceição e tiveram os filhos Marcelo, André Luiz, Leonardo e Eloisa, e é avô de seis netos, ele  nos contou de sua infância na Avenida São Carlos próximo da Praça Itália onde nasceu, que era uma região já bastante povoada na década de 1930, porém só havia uma parte da rua que era calçada com paralelepípedos o restante era de terra, na época da seca era muita poeira e no período das chuvas era barro e lama lembra ainda que foi a primeira família negra a morar na principal avenida da cidade, Jesser  contou que estudou na Escola Municipal Centenário que funcionava no antigo prédio do Pronto Socorro na avenida São Carlos, onde seu pai trabalhava como servente e cujo o diretor tinha o apelido de pavão pelo grande por físico, em alguns dias ele, e seus irmãos Joel e Ricardo, matavam a aula os macacos que ficavam em cima dos prédios. Estudou também na Escola Estadual Eugenio Franco e guarda boas lembranças do professor Armando, quando jovem a diversão aos sábados, domingos e feriados era passear no centro da cidade onde tinha o footing porém os brancos não se misturavam com os negros que ficavam na rua Dona Alexandrina enquanto eles passeavam na avenida São Carlos na Praça Coronel Salles, ou seja o racismo sempre esteve presente na cidade, mas eles se divertiam nos cinemas que haviam na época, cines, São Carlos, Progresso, Avenida, Jóia e cine São José. Seu primeiro emprego foi na serraria do senhor Silvio Vilari onde não tinha salário e trabalhava em troca de serragem ou algum favor que prestava, depois passou a trabalhar registrado e atuou por alguns anos, depois se transferiu para a indústria Batista Ricetti que funcionava na Praça Itália onde trabalhou durante 25 anos até se aposentar, depois trabalhou em algumas empresas dentre elas na Embraer em São José Campos onde foi atingido pela crise do petróleo onde houve a dispensa de muitos funcionários. Porém a música sempre esteve presente no ceio da família Santos, onde o patriarca o senhor Alfredo era musico bandolinista e sempre muito intuitivo logo percebeu o dom dos filhos para a música e os incentivou, o Ricardo Santos despontou com um talento precoce e com 17 anos de idade era cantor na Orquestra Serafim Batarce que tocava na Associação Beneficente dos Alfaiates de São Carlos, onde foi visto pelo maestro da Orquestra Pedrinho de Guararapes que ficou encantado o talento do jovem que cantava inglês, e o convidou para integrar a sua orquestra e assim falou com seus pais que autorizaram a sua viagem, porém sua mãe sofreu muito com a distância e até adoeceu enquanto o jovem Ricardo só evoluía na carreira musical e no inglês a ponto de o então prefeito da época Sr. Luiz Augusto de Oliveira “Luizão” por diversas vezes trazer informações para sua mão dizendo “eu vi seu em tal cidade”, e assim passaram alguns anos até que por motivos de doença ele voltou para São Carlos para se tratar e não mais retornou para Guararapes. Porém durante a sua ausência seu pai instruía e orientava os filhos Jesser, Joel e Mario a estudar música, e já eram músicos quando o maestro decidiu montar um conjunto com os irmãos e deu o nome de “Os Imperiais” cuja a primeira formação era Ricardo, maestro sax e vocal, Jesser no Sax alto, Joel baterista, Euclides Guimarães “Lolinho” trombone de vara, Rafael trompete, outros integrantes se juntaram a banda  que cresceu muito, porém a perspicácia do pai alertou com esse nome Os Imperiais, a banda não vai emplacar, a banda deve se chamar Os Baluartes que quer dizer “fortaleza” e assim surgiu a “Banda Big Som Os Baluartes” que se consolidou e com 12 integrantes, tocou em todo o estado de São Paulo, também na capital paulista e em vários estados pelo Brasil. A banda foi um sucesso a ponto de que alguns integrantes perdiam o dia de trabalho por estarem tocando em alguma cidade distante, ele também nos falou sobre a concorrência que havia entre as orquestras, e de um período que nos bailes do Flor de Maio um fim de semana tocava Os Baluartes e no outro Os Tropicais e assim iam revezando se lembrou das grandes orquestras da época como: Jason de Tupã, Continental, Fascinação, Silvio Mazzuca, Severino Araújo, Nelson de Tupã, Osmar Milani, Erlon Chaves, Tabajara e muitas outras.  A música era tão enraizada na família, que a sua irmã Geuza se destacou como cantora e se apresentava no programa da Rádio São Carlos chamado Audições Rataplã que era dirigido pelo senhor Gisto Rossi e sua esposa dona Silvia Ivone os donos da emissora e a cantora Geuza chegou a gravar um compacto. Com o fim da orquestra os Baluartes, ele seguiu a vida musical tocou em alguns conjuntos, como o Banda Soul Jazz do Casimiro Pascoal da Silva, Banda do Luiz Mario ambas de São Carlos entre outros, tocou na Bahia em Vitória da Conquista, em 2009 Jesser se mudou para Campinas SP onde sem se separar da música, foi morar com a sobrinha Marcia, por quem tem uma gratidão muito grande e por uns tempos tocou em igreja evangélica, mas foi uma experiência não muito agradável tanto que se vivesse novamente não gostaria de tocar em igreja evangélica e perguntado qual o seu sonho futuro, é que sua filha Eloisa invista no seu neto que desde a pouco idade, já dá sinais do dom musical herdado do sangue da família. Ao final ainda fomos brindados com a performance de Carinhoso de Pixinguinha no sax dourado, foram momentos agradabilíssimos que passamos em sua companhia bem como de sua sobrinha e seu esposo, tudo registrado com fotos de Vilma Silva, produção e direção de Benê Silva, é o Instituto Benê Silva de Pesquisas Históricas, eternizando as histórias de vida.

Seguem abaixo os links de 20 mini vídeos da playlist

 Foi a 1ª negra a morar na avenida São Carlos

Matavam as aulas para ver os macacos

Os empregos e a aposentadoria

O toque de recolher e a formação dos Baluartes

O pai incentivou os filhos para música

O irmão Ricardo um talento jovem

O racismo no footing nos anos 1940 e os cinemas como diversão

O 1º sax ele nunca esqueceu

O nome da orquestra dado pelo pai

A concorrências das orquestras da época

A grande orquestra viajou muito 

As boas lembranças do Flor de Maio

Geuza a irmã cantora

Tocou em outras bandas

A família

A mudança de Sanca para Campinas

O neto tem futuro musical

O que não faria novamente e o que ainda espera fazer

Carinhoso de Pixinguinha

O sax dourado e a gratidão à sobrinha Marcia